Comentário a Como Levar a Prática a Peito

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Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö

Jetsün Drakpa Gyaltsen

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Comentário a Como Levar a Prática a Peito de Jetsün Drakpa Gyaltsen

por Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö

Namo significa "homenagem"; ratna significa "precioso"; e gurave significa "ao guru."

Com o auspicioso mérito de ter adquirido as oito liberdades e as dez vantagens; com confiança no processo de causa e efeito, e a renúncia que advém do medo do nascimento, velhice, doença e morte; com a devoção de seguir assiduamente um guru e amigo espiritual qualificado e gracioso, sem abandonar as suas instruçõesmeu filho de aguçada inteligência e prudência, considera o seguinte!

Uma vez que, através de estudo e contemplação, tenham sido eliminadas todas as concepções erróneas, então, para levares a prática a peito, por favor serve-te apenas da comida, roupa e conversa estritamente necessárias; mantém, com incansável diligência, uma grande determinação; abandona inteiramente o apego aos três reinos do saṃsāra; habita solitariamente nas montanhas, tal como um animal selvagem; e abandona todas as preocupações mundanas desta vida – tanto as maiores como as mais insignificantes – e todos os equívocos superficiais comuns a um praticante.

Para desenvolveres, dentro do teu ser, as qualidades de realização relacionadas com os três treinos, mantém, por favor, tão puros como um vaso de cristal, os votos triplos que assumiste através de promessas – os votos pratimokṣa, bodhisattva e vidyādhara mantra – e compromissos de samaya, mantendo-os livres das máculas das falhas e quedas; minimiza a arrogância de te teres em demasiada consideração e a presunção de te agarrares às escassas virtudes que cultivaste; e tendo abandonado todo o desdém, rivalidade e inveja, demonstra o maior respeito por todos os seres – sejam eles de estatuto elevado, baixo ou mediano – honrando-os como se fossem eles as jóias da tua coroa.

Para receberes as bênçãos daquele que é o mais elevado dos mestres – o guru que é a essência e corporificação de todos os budas dos três tempos – por favor, abandona a noção superficial de que é ele um ser comum, bem como quaisquer outras visões erróneas, e concebe-o como sendo um verdadeiro buda; toma a sua vida de libertação – incluindo a realização, conduta, os três segredos e a atividade do guru – como o teu modelo, tal como quando crias um tsa-tsa e reproduzes os padrões gravados no molde; e dedica-te a recordares infalivelmente o guru, tendo por base atenção, vigilância e uma constante oração – que não seja meramente da boca para fora, mas sim baseada numa devoção sincera e inabalável surgida do mais profundo centro do teu coração.

Por favor, evita conceptualizar a visão profunda do dharmadhātu livre de elaborações, caindo em noções adquiridas durante o estágio de estudo e reflexão; determina, com a convicção de teres eliminado todas as concepções erróneas, que todas as aparências dualistas são percepções da própria mente, em vez de objectos externos reais; não rejeites o saṃsāra nem procures o nirvāṇa baseado em expectativas ou medos; e deixa que o agente, a mente que alcança esta convicção, seja purificado no espaço básico além de surgimento, permanência e cessação.

Por favor, evita fixares-te meditativamente nesta visão, como se estivesses amarrado externa ou internamente; dentro da condição natural que está além de confinamento e libertação, elimina o apego às experiências efémeras de êxtase, claridade e não-conceptualidade; permitindo que quaisquer pensamentos que tenham surgido desapareçam por si mesmos sem deixar rasto, captura o estado natural de cognição pura que corta a raiz de qualquer identificação com o que surge ou cessa; e cultiva o estado natural que vai para além da expressão verbal e dos pensamentos e noções da consciência comum.

Por favor, evita qualquer adoção e rejeição disto ou daquilo – baseadas em ideias de bom ou mau em relação à conduta das três portas – purificando, dentro do espaço básico, quaisquer pensamentos de aceitação e rejeição, uma vez que, capturando a fortaleza da visão, nada se desvia da grande equanimidade; permite que conceções dualistas relativas a bom e mau dissolvam-se por si mesmas, como uma cobra que desenrola os seus próprios nós; considera as oito preocupações mundanas, consistindo em quatro estados favoráveis e quatro estados desfavoráveis – ganho e perda, alegria e tristeza, fama e insignificância, louvor e escárnio – como tendo todas o mesmo valor; e evita os próprios "antídotos" dos pensamentos positivos que te levam a pensar: "É vacuidade" ou "É ilusório e de origem dependente." Como diz o Resumo em Verso da Perfeição da Sabedoria: "Tendo destruído e abandonado conceitos, alcança-se a outra margem."

Por favor, não aguardes por uma fruição a ser alcançada em algum momento distante no futuro, mas deixa que a sabedoria da própria cognição pura, a realização do estado natural, se manifeste. É quando isto acontece – quando a fruição que está inerentemente presente se torna clara, tendo por base o ponto-chave de que solo e fruição são indivisíveis – que o mero rótulo de ‘alcançar a fruição’ é aplicado. Quando a tua familiarização com a visão for estável, funde meditação com pós-meditação, de modo a que estes sejam de um só sabor, inseparáveis e indivisíveis; e deixa que se dissipe a compulsão de praticar ‘isto’ ou meditar ‘naquilo’ que tem por base a ideia de sessões diárias e períodos de meditação.

Para trazeres o bem-estar aos outros seres, que são vastos em número quanto os limites do espaço, por favor, deixa a força da aspiração na qual há apego às três esferas conceptuais [de sujeito, objecto e ação] seguir o seu curso, e a interdependência de causas e condições para todos os fenómenos do saṃsāra e nirvāṇa surgir incessantemente, enquanto aperfeiçoas a grande compaixão não-referencial por todos os seres sencientes, puros e impuros – a partir de um estado em que vacuidade e originação dependente são indivisíveis; uma vez que, a partir do momento em que [os fenómenos] surgem, estes não podem ser separados da vacuidade que é a sua ausência de uma verdadeira natureza.

Esta pequena canção consistindo num pedido em oito partes, que reúne os pontos-chave da prática do dharma relacionados com o sūtra e o mantra, foi cantada por Drakpa Gyaltsen, um yogi do veículo supremo, a um discípulo que possuindo fé, diligência e aguçada inteligência procura aplicar-se à prática. Em vez de a reduzires a apenas algo escrito no papel, guarda-a no teu coração e assegura-te de que, desta forma, ela se torna significativa para as três portas [isto é, física, vocal e mentalmente]. Gera uma forte determinação e persevera na meditação até que isso aconteça; o que significa adquirires a confiança de tal experiência e atingires rapidamente o nível do grande despertar que evita os dois extremos – o da existência e o da quietude. Samāptam iti significa "Está completo."

Estas breves anotações foram escritas pelo insensato Chökyi Lodrö a pedido do Sakyapa Ngawang Kunga Sönam.[1] Que a virtude abunde!


| Traduzido do tibetano por Adam Pearcey com o generoso apoio da Fundação Khyentse e do Terton Sogyal Trust, 2021. Traduzido do inglês por André A. Pais, 2024.


Bibliografia

Edição Tibetana

'Jam dbyangs chos kyi blo gros, "rje btsun rin po che grags pa rgyal mtshan gyis mdzad pa'i sgrub pa nyams su len tshul/" in ’Jam dbyangs chos kyi blo gros kyi gsung ’bum. 12 vols. Bir: Khyentse Labrang, 2012. W1KG12986 Vol. 8: 599–605

Outras Fontes Primárias

grags pa rgyal mtshan. gsung 'bum dpe bsdur ma/_grags pa rgyal mtshan/. BDRC W2DB4569. 5 vols. Pe cin: krung go'i bod rig pa dpe skrun khang, 2007. Vol. 5: 350–351


Version: 1.1-20240419


  1. I.e., Jigdral Sakya Dagchen Rinpoche (1929–2016).  ↩

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