Uma Aspiração ao Treino Mahāyāna da Mente

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Ga Rabjampa Kunga Yeshe

Ga Rabjampa Kunga Yeshe

O Excelente Caminho para a Iluminação

Uma Aspiração ao Treino Mahāyāna da Mente

por Ga Rabjampa Kunga Yeshe

Homenagem ao guru!

Sempre amorosos com os seres e nunca inoportunos,
Vitoriosos budas e vossos herdeiros—pensai em mim, peço-vos!
Concedei as vossas bênçãos para que estas minhas sentidas aspirações,
De treinar e seguir o vosso exemplo, venham a concretizar-se!

Com compaixão por todos os seres, ilimitados em número,
E devoção nascida da fé e da razão,
Possa eu tomar refúgio, agora e até à iluminação,
Com confiança no mestre e nas Três Jóias!

Esta forma humana, tão difícil de encontrar, não durará muito;
Onde quer que renasça, não haverá hipótese de felicidade;
E ações positivas e negativas dão os seus frutos infalivelmente—
Vendo isto, possa eu dedicar todo o meu ser ao Dharma sagrado!

Sendo um bálsamo que alivia todas as dores da existência saṃsārica,
Um tesouro supremo trazendo benefício e felicidade a todos,
E uma gentil mãe nutrindo os budas e seus herdeiros,
Possa a minha confiança no bodhicitta permanecer para sempre firme!

Sempre livre de orgulho, por mais próspero que seja,
E sem desanimar, mesmo entre terríveis infortúnios,
Esta vasta força de espírito dos bodhisattvas—
Possa ela definitivamente surgir no meu coração!

Sendo a essência pura de todos os ensinamentos,
O caminho único trilhado por todos os herdeiros do Buda,
E o guia e mestre de todos os iluminados:
Possa o bodhicitta rapidamente nascer na minha própria mente!

Estes fenómenos imaginários, percepções deludidas da minha mente,
São não-nascidos e além de elaborações conceptuais.
Vendo isto, no período pós-meditação, com uma concentração ilusória,
Possa eu beneficiar, numa vasta escala, estes seres—criações da minha própria delusão!

Quando vejo os meus companheiros, tão bondosos e prestáveis que foram,
Afundando-se neste vasto oceano de sofrimento,
Possa a minha mente encher-se de amor e ternura por todos eles,
Como uma mãe, impotente, vendo o seu filho amado a afundar-se na correnteza!

Possa eu tomar sobre mim os danos e sofrimentos dos seres,
Os meu próprios pais e mães de incontáveis vidas,
E possa oferecer aos outros a minha própria felicidade e virtude,
Para que esta nobre atitude, que nos é dito ser suprema, seja ativada na minha mente!

Possa tudo o que surja, e que é a base das aflições como ignorância, desejo e raiva—
Quer seja amigável, hostil ou neutro—
Tornar-se um suporte para o bodhicitta,
Como combustível lançado num fogo ardente!

Já que é a causa de todas as aflições que nos amarram a saṃsāra,
A fonte de karma negativo e das várias formas de sofrimento,
E um demónio que nos obstrui no caminho para a iluminação:
Possa eu firmemente extirpar todas as formas de auto-aferro!

Como ver pus em vez de néctar—como resultado do karma—
As faltas que vejo nos outros refletem a minha própria percepção impura.
Sabendo isto, possa eu respeitar todos os outros seres,
Fontes de qualidades oceânicas de felicidade e positividade!

Sofrimento, desdém, calúnia e afins,
Quaisquer que sejam as circunstâncias que me atinjam,
Vendo-as como um suporte para o treino do bodhisattva,
Possa aceitá-las todas com uma mente de perfeita alegria!

As riquezas deste mundo são como a substância de um sonho—
Por muitas que possua, possa eu nunca me apegar a elas.
E vendo-as como meios para beneficiar os outros,
Possa eu não temer sacrificar o corpo e até a própria vida!

Mesmo que os meus mais antigos e queridos amigos
Se virem contra mim e vejam em mim um inimigo,
Possa eu responder apenas com amor, e lutar para trazer
O seu benefício e felicidade, agora e no futuro!

Mesmo que exércitos de demónios sedentos de sangue e carne
Caiam sobre mim ansiosos por devorar este corpo ilusório,
Ainda assim possa eu não sucumbir a pensamentos de aferro ao eu,
Mas sim, amorosamente, esforçar-me por lhes trazer apenas benefício!

Vendo que estes inúmeros fenómenos nunca são separados
Da natureza da mente, que é, e sempre foi, pacífica,
Possam as percepções deludidas de adversidade, como um reflexo da lua,
Conduzir-me a uma realização clara da verdadeira natureza da realidade!

Vendo todos os malfeitores como companheiros espirituais,
Todo o sofrimento como um adorno da mente,
E toda a adversidade como um chamamento para a virtude,
Possam as circunstâncias desfavoráveis tornar-se o próprio caminho!

Sabendo que correr atrás da minha própria felicidade é o verdadeiro inimigo,
Possam os adversários vulgares tornar-se suporte para o despertar!
E, vendo a doença como meio de purificar a negatividade,
Possam as circunstâncias desfavoráveis tornar-se o próprio caminho!

Vendo maus augúrios como circunstâncias que atraem a prosperidade,
Maus espíritos como suporte para ganhar realização,
E maus companheiros como uma forma de aprofundar a compreensão de práticas erróneas,
Possam as circunstâncias desfavoráveis tornar-se o próprio caminho!

Sabendo o que adotar e rejeitar, corretamente farei as acumulações e purificações,
Agradando aos guardiões vencerei obstáculos e māras,
E, com meios hábeis, todo o tipo de bloqueio se tornará um suporte—
Possa eu aprofundar seriamente os quatro tipos de prática!

Com puro deleite, possa eu vestir a armadura do empenho[1]
E treinar a mente no Dharma que subjuga o auto-aferro!
Com o suporte de aspirações e métodos positivos,
Possa a prática do Dharma estender-se por toda a minha vida!

Com uma devoção que constantemente recorda o guru
E uma perfeita familiaridade com o bodhicitta, absoluto e relativo,
Nunca me desviando do Dharma que é profundo e vasto
Possa eu ter o mérito de encarar a morte desta forma!

Ainda que seja atacado por humanos e demónios,
Atormentado por distúrbios nos elementos corporais,
Ou afligido por intensas emoções destrutivas,
Possa o supremo bodhicitta nunca diminuir!

Mesmo quando os horrores do bardo se revelam na minha percepção deludida,
Ou ao entrar no ventre de uma futura mãe, ou mais tarde, em outras vidas,
Possa eu nunca esquecer, nem por um só instante,
A essência do Dharma—o bodhicitta, precioso e sublime!

Os budas vitoriosos e seus herdeiros, os amigos espirituais,
Proclamam este excelente e genuíno caminho ao seu círculo de discípulos.
Servindo tais mestres durante todas as vidas que terei,
E abraçando esta instrução, possa eu beneficiar os outros!

Ao dominar o auto-aferro, possam todas as minhas ações tornar-se no Dharma!
Banindo expectativa e medo, possam todas as situações ser suportativas!
Ao aperfeiçoar a atitude altruísta, mesmo que sofra,
Possa isso apenas contribuir para a felicidade e alegria dos outros!

Nunca contaminado pelo veneno do apego a crenças,
Nem amarrado por uma compaixão limitada e parcial,
Possa o precioso bodhicitta, união de relativo e absoluto,
Dissipar todos os males, tanto de existência como quiescência!

Mesmo que as minhas ações de corpo e fala sejam vulgares,
Possa eu nunca separar-me da mente do bodhicitta!
Mesmo sem uma rotina de ações virtuosas artificiais,
Pelo poder da motivação, possa eu acumular mérito em abundância!

Ainda que dedique o meu corpo, vida, posses e méritos do passado, presente e futuro,
Em cada dia sem exceção, para o bem de todos,
Possa a expectativa de ganhar em troca algum benefício ou felicidade para mim próprio
Nunca me ocorrer, mesmo por um instante!

Aceitar a derrota para mim próprio e dar a vitória aos outros,
Tomar o lugar mais baixo e respeitar cada um dos seres,
Oferecer apenas benefício em resposta a qualquer dano que seja feito:
Esta é a disciplina dos bodhisattvas—possa eu abraçá-la!

Respeitar os mestres e levar a sério tudo o que dizem,
Incorporando todos os ensinamentos numa só prática,
E abandonando expectativa e medo, possa eu sempre, em prol dos outros,
Vestir-me com a armadura da diligência entusiástica!

Se se revelar como causa de dano aos outros,
Possa abandonar, como se fosse palha[2], o próprio êxtase da libertação!
Se trouxer benefício aos outros, possa eu renascer nos reinos inferiores,
Lá entrando alegremente, como se desfrutasse de um agradável jardim!

Protegendo os três treinos como se fossem os meus próprios olhos,
Possam o meu corpo, fala e mente nunca se afastar do Dharma,
E possa eu dedicar todos os meus méritos—do passado, presente e futuro—
Com pureza, livre dos três conceitos de sujeito, objeto e ação!

Com uma mente repleta de alegria, possa eu entrar
No oceano da conduta, vasta e ilimitada em profundidade,
Uma mina com muitos milhões de jóias de virtude e bondade,
E a fonte de uma poderosa acumulação![3]

Quando oprimido pelo fardo de todo o tipo de sofrimento,
Através deste remédio específico, de entre todos os incontáveis meios hábeis,
Possa eu trazer benefício e felicidade a todos os seres sem exceção,
E ganhar grandes poderes de meditação em samādhi!

Visão e ações iluminadas são como um vasto oceano, impossíveis de sondar;
Assim, tendo reunido, no grande lago da minha própria mente,
Rios de qualidades e tesouros extraídos do infinito mar de budas vitoriosos,
Possam as minhas próprias ações ser indistinguíveis do oceano da ação iluminada!

Esta prece, incorporando, em versos aspirativos, a terminologia incomum dos ensinamentos do treino Mahāyāna da mente, foi composta por aquele que confia do fundo do coração neste ensinamento, Lodrö Shenpen Dawa.[4] Possa isto ser virtuoso e auspicioso!


| Traduzido do Tibetano por Adam Pearcey, 2013. Revisto e atualizado para o Lotsawa House, 2021. Traduzido do Inglês por André A. Pais, 2023.


Bibliografia

Edição Tibetana

Kun dga’ ye shes. "Theg pa chen po’i blo sbyong gi smon lam byang chub lam bzang" In Sga rab 'byams pa kun dga' ye shes kyi gsung 'bum, Xining, [s.n.] pgs. 282–287.

Fontes Secundárias

Ga Rabjampa. 2012. To Dispel the Misery of the World: Whispered Teachings of the Bodhisattvas. Rigpa Translations, trad. Boston: Wisdom Publications.

Pearcey, Adam. "Ga Rabjampa Kunga Yeshe," Treasury of Lives, acedido a 09 de Dezembro, 2021,http://treasuryoflives.org/biographies/view/Ga-Rabjampa-Kunga-Yeshe/1831.


Versão: 1.0-20230317


  1. Literalmente "a armadura do ímpeto," correspondendo à primeira das cinco forças.  ↩

  2. Literalmente "como erva à beira da estrada," isto refere-se a erva que foi usada, pisada e espalhada por aí, e logo tem pouco ou nenhum valor.  ↩

  3. O texto original continha uma palavra adicional ilegível, indicada com reticências na edição mais recente. Como resultado, o sentido desta linha é ambíguo.  ↩

  4. Um dos nomes alternativos de Ga Rabjampa. Não é clarificado na sua biografia quando e de quem recebeu este nome.  ↩

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